quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

00:52 AM


Eu te ouço levantar, os passos se escorrendo pelo chão como se não quisessem sair, são pesados e levantam poeira que brilha por causa da luz que vem da janela. Talvez sua mente esteja lutando contra si nesse exato segundo, eu penso, talvez ela esteja discutindo sentimentos versus princípios pois essa sempre foi uma das maiores discussões que o ser humano enfrentou. Com muito esforço você finalmente chega a porta, a qual bate com força na saída, fazendo o ambiente todo tremer e eu ouso a dizer que ele quase tremeu tanto quanto minhas mãos naquele momento, quase pude sentir que a casa sofreu mais que eu.
O que vem depois é simples silêncio. A poeira voa pelos cômodos vazios, o sol brilha pela janela e eu continuo imóvel, sem reação. Você sempre soube que eu odeio silêncio, é uma daquelas coisas bobas que se conta logo quando se conhece uma pessoa e a outra nunca leva a sério de primeira, mas o silêncio aumenta a significância de meus pensamentos; as vozes, que já fazem estrago sozinhas, se tornam altas demais para eu só varrê-las para o chão e não demora muito para elas tornarem o significado de razão para meu espiríto influenciável. 
Eu continuo no meu lugar, sem me mover, sem falar e quase sem respirar. Sua voz ecoa altamente em meus ouvidos, como se houvesse feito um estrago permanente no meu tímpano, as suas frases se repetem e se grudam ao meu corpo como pequenos cacos de vidro que futuramente eu terei de arrancar um por um. 
A bomba relógio se explode. Não sei em que momento exatamente eu me perco, me perco de meus pensamentos, me perco da razão, mas me observo como pessoas se observam em sonhos - de uma distância segura, sem poder intervir.  Me debato, choro, berro e rio. Sintomas que mais se aplicariam ao meu tio quando bebe descontroladamente, se aplicam a mim nesse momento - talvez eu tenha bebido demais de suas palavras e gestos para estar sem um pingo de álcool no meu sangue.
Olho para o relógio novamente, é apenas um começo de um dia mas me sinto como se tivesse passado meses de noites mal dormidas e como não sentisse o macio de um travesseiro desde a eternidade. E como uma criança sem energia após sua festa de aniversário, me deito no chão da sala para ver se tudo não desaparece numa noite de sono - mesmo sendo dia -, se tudo não se conserta com um pedido de desculpas - mesmo não tendo acontecido nada pelo qual se desculpar. 
Meu corpo se afunda no chão como um saco de pedras, imóvel e útil somente para destruição, e eu me pergunto que mãos são essas que roubam todas as lágrimas de meus olhos e me fazem não chorar num momento desses, seriam essas as mesmas que me roubam as falas e determinações? Teria realmente somente um culpado na minha história?
Quando finalmente me levanto noto que perdi um dia inteiro, o sol já não brilha tanto e ele mais parece queimar a Terra do que iluminar algo. O celular encontra-se lotado de pessoas inúteis e não encontro seu nome nem no meu status - o que só trouxe mais pessoas inúteis a me chamarem para conversar com a falsa importância que decidem dar em situações "difíceis". 
Você se foi, se eu tiver que mencionar isso de forma curta, grossa e real. Você se foi e eu me pergunto quando que eu chegarei no ponto de aceitar que não éramos perfeitos um para o outro, igual você chegou. Me pergunto se eu conseguirei notar quando que nosso amor se tornou uma faca que te machucava e te fazia chorar, como eu choro agora. Me pergunto quando vou aceitar que nós não éramos o presente, mas uma folha do passado que estava ressecada e quebradiça, a beira da extinção. Você notou tudo isso e talvez um dia eu também note como éramos um fracasso iminente. Porém, ao por meu celular para desligar, pegar uma garrafa de vinho que estava jogada em um armário qualquer - você bebia? - e sentir meu peito rasgar como se a morte estivesse em minha porta, eu sei que não será hoje que eu dormirei sem sonhar com você, com seus olhos e com seus lábios. 
Não será hoje que você irá me deixar, eu penso, mesmo você já não estando mais aqui.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

00 AM


quero alimentar o meu monstro
com o seu rosto
com os seus gostos
quero observar-te 
até essa pintura gravar em minha mente
e derreter com as chamas das minhas veias
e que isso dure noites sem fim

quero ter-te para mim
quero cada sentimento
cada arrependimento
que uma colegial pode ter

quero todas as loucuras
que uma paixão pode trazer
e te romantizar
e te rimar
com todo lugar

quero dez segundos antes de um beijo
só para meu estômago enlouquecer
e criar uma úlcera no lugar

quero cada pequeno detalhe
para guardar num texto
num folheto
ou somente nos lábios
dos alheios

xingamentos me perseguem
por tudo o que eu guardo
e eles riem
dos meus textos romantizados

mas, amor
algo tem de ser eterno
como as histórias de eros
como a beleza do universo
como os toques entre amantes

então, amor
que seja eterno
nossas lembranças
ou uma foto sua ao amanhecer
ou as piadas que insisto em fazer

porque, amor
algo tem de ser eterno
e se não será esse sentimento
que morre num estalar de dedos
numa manhã fria de setembro
ou até mesmo ao ver-te sorrindo

que seja eterno, amor
o seu nome aos ventos
o sorriso num meu beijo
tudo o que sentimos agora
e que estamos fadados a não sentir mais

sábado, 2 de janeiro de 2016

PM



por favor não fale comigo
não dirija suas gentis palavras contra mim
não dirija seu olhar penetrante
ou sua alma que me assombra
prefiro ver-te assim
como um sonho distante
com suas ações desconcertantes
prefiro ver-te como um quadro
tão belo e inalcançável
talvez você devesse estar presa
presa longe mim
presa sem motivo aparente
apenas porque talvez alguém
um dia
queira tocar-lhe
ou porque talvez te apedrejem
pois as pessoas ferem
tudo o que
é belo e inalcançável
por favor não fale comigo
pois talvez tudo aquilo
que eu prendo em mim
seja liberado em proporções
inesperadas e astronômicas
pois talvez
quando meu coração
ouvir sua voz
tão bela e inalcançável
ele finalmente exploda
e os sentimentos derramem
para fora de minha boca
talvez eles sejam como você
belos e inalcançáveis
ou talvez eles sejam iguais a mim
medrosos e assombrados
por algo que nunca poderão ter

domingo, 20 de dezembro de 2015

4:29 PM




a morte aqui jaz
em meus lábios
incapacitada
nos meus braços
eu foragida
eu mal querida
e corvos que devoram
pedaços em pedaços

não há monstros
se alimentando de mim
não há esperança
se possuindo de mim
não há guia
que me diga onde ir
não há intuições
que me façam confiar

ela grita para mim
implora sem pedir
em correntes fracas
pele desgastada
águas a englobam
num azul puro
sem sangue a derramar
sem sangue a percorrer
sem sangue para viver
um espírito desfeito
fruto de mitologia

eles gritam para mim
quando passo
quando me desfaço
pretos e sem voo
carregados de peso
vivem em desespero
nesse castelo
meu castelo
almas partidas
sem pós vida
fruto de mitologia

tem carrosséis
tem arranha-céus
nesse castelo vazio
tem diferentes cores
mais que três amores
e não há dimensões
nesse lugar não-plano
e não há possibilidades
num mundo sem fim

fomos devorados
ela diz
na tentativa de perfeição
de bela geometria
em poliedros circulares
acabamos com milhares
nossa queda
sem dinastia
havia somente uma menina
comandando exércitos
gritando guerras
que deveriam ser vencidas
dentro de mentes
nossas mentes
todas dos que mentem

nenhuma guerra foi vencida
dezenas de consciências
foram perdidas
e vários túmulos foram criados
para dar um fim
nas mentes dos que sobraram
talvez essa força
seja a verdadeira natureza
e a perfeição
seja somente uma consequência
fruto de mitologia

a morte aqui jaz
no meu túmulo
no meu castelo
no meu rosto
nesse amarelo
que as flores carregam
que ponho no meu descansar
nesse lugar sem dimensões
sem possibilidades
coberto de sonhos
e gritos incensáveis
de mentes que batalham
contra si
por palavras
que disse e insisti

eu grito para eles
sou apenas uma garota
com muitos em minha mente
controles que são controlados
e gritos que nunca são gritados
caminho por entre os corvos
pretos e que não voam
aprisionados e desesperados
numa mente que é minha
todas essas mentes são minha
apenas fruto de mitologia

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

10:19 PM



       Descansar num lugar estranho nunca pareceu mais fácil. Mesmo que o sofá não seja grande o suficiente para nós dois, mesmo que nunca achemos uma posição confortável para ambos. Você adormeceu no meu peito e nossa respiração é tranquila como esse amanhecer colorido que eu vejo por cima de seus cachos. Talvez haja paraíso afinal.
        A TV soa baixinha longe de mim. E eu observo as constelações que preenchem sua pele, que tão facilmente se contrapõe a minha e a aquece. Minha mão continua fria, mesmo estando por debaixo de sua camisa, mas meu coração derrete liberando o que parece morfina pois me alegra e esvazia toda a dor que corria pelo meu corpo.
       Seus lábios, praticamente num biquinho, questionam todas as minhas ações; incluindo o programa de TV que passa em cores por meus olhos. Como que alguém pode quebrar um coração como o seu? Um coração tão simples e puro, um espelho com nada a esconder e com tal moldura que me encanta eternamente, com algumas manchas e falhas, mas que continua a reluzir uma áurea tão clara.
       Você me puxa quando finalmente acorda, me dá um beijo e vai tomar café. Ri de como o amargo dele combate meu doce e depois acaricia meus cabelos. Num paradoxo de olhares, que sempre parece melhor que qualquer conversa, confesso o que já sabia faz tempo: que mesmo indo embora, algo em mim sempre fica preso, Numa estante, num travesseiro, num beijo que não deveria ter sido desfeito.
Sou tua ate no espaço sideral isolado que é minha mente numa noite sozinha e cosmo nenhum consegue liberar essa euforia que fica dentro de mim quando seu nome dança em meus lábios ou quando sua boca acorda meu sistema nervoso, fazendo milhares de estrelas clamarem por suicídio. Você finalmente me solta para o mundo, mas minha mente continua presa naquele olhar que você me deu faz cinco minutos.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

10:30 AM














Terminar um mês com um coração partido, que aguentou toda uma sofrença só para falhar nos últimos segundos. Terminar um mês com um coração partido, com sal nos olhos e toques que não ocorreram, mas que são profundamente sentidos por minha pela de tempos em tempos. Com mais propostas que tempo, com mais ideias que páginas e com uma calma que foi apagada, novembro percorreu meus pulmões para deixá-los tão danificados que nem água consegue limpá-los. Redescobri aquele álbum só para ver nas entrelinhas palavras que caçoavam de mim por esconder tais sentimentos por semanas, os flashes não pararam desde então. Tantos rostos com cores inimagináveis e tanta dor escorrendo de minha pessoa, que sorria numa alegria contínua e calma. Terminar um mês com um coração partido só para notar que o controle é uma ilusão descontrolada, fugindo de mim como a chuva que se recusa a me molhar, que só aceita me acordar de sonhos perfeitos e pesadelos apaixonantes. As cores que percorrem minha mente jamais saem e me pego às vezes com seu nome em meus lábios, só para soltar o dela em seguida, como se se pertencessem; mas essa é somente outra ilusão da vida, assim como essas palavras, assim como essa música que zomba de mim. Talvez tudo que eu sinta seja ilusão, seus abraços, seu nome, essa mão estranha que pousa em meu ombro. Terminar um mês com um coração partido, com a lembrança de que daqui a 40 dias eu terei uma vida nova, que apenas será outra ilusão, pois ainda vou te esperar num canto escondido com tais sentimentos na palma de minha mão.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

5:32 PM


Não concordei com isso, não aceitei esse destino. E dois corações batem descompassados, um deles é assassino, um deles foi treinado para isso, ambos se sentem perdidos. Teu uniforme é vermelho tal como meu cabelo, mas eles não se encostam, não como antes. Meu negro corpete não parece mais com a noite, manchado de decisões incompreensíveis para ti, manchado de vidas que perdi. Num ballet sombrio nos movemos, dois corpos graciosos que não se esbarram, se dividem na negritude e se esquivam eternamente.
Antigamente éramos um sonho distinto, um flerte contínuo de mentes quebradas, a vida não foi gentil com nenhum de nós, nossos toques queimam o vento que nos segura no chão, duas pessoas que tiveram que mudar-se para tentar pertencer a um mundo não nosso. Nos observam, se divertem, pois sofremos mais que aqueles que estão a sangrar no campo de batalha. Sorriem e comentam sobre o casal que se devastou por culpa de opiniões alheias. E te observo, enquanto foge de mim fugindo de ti, só para notar que somos dois corações feitos somente para quebrar.